Números deste ano da Deam podem estar subestimados. A maior parte das ocorrências é enquadrada na Lei Maria da Penha. ONG pretende ajudar levando informação às vítimas
Desde o início do ano já foram feitos mais de 1,7 mil registros de agressões na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Niterói. A maior parte deles, enquadrado na Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. Mas apesar do elevado número de notificações, estima-se que mais da metade dos abusos ainda não sejam denunciados devido à desinformação das vítimas, em sua maioria de baixa renda.
Para tentar reverter esse quadro, a ONG Criar Brasil resolveu qualificar os profissionais das rádios comunitárias para que eles saibam como orientar as vítimas de violência e divulgar os canais de denúncias. Milhares de rádios comunitárias em todo o estado já tiveram ou estão tendo seus quadros capacitados. Na região de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, pelo menos 20 delas já aderiram à iniciativa.
“A ONG trabalha com diversos temas de importância social. Em 2008 nos reunimos com os comunicadores e percebemos a necessidade de falar sobre esse mal, que é o responsável pela morte e humilhação de tantas mulheres. Em parceria com a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, do Governo Federal, criamos o projeto Rede de Radialistas no Enfrentamento Contra a Mulher”, destaca Denise Viola, apresentadora da Radio MEC AM.
Grande conhecedora da causa, ela ajudou na confecção do material e no esclarecimento sobre as condições de vida dessas mulheres. Durante o curso, os profissionais assistem a palestras sobre o que mudou legalmente com a sanção da lei Maria da Penha, as formas de denúncia disponibilizadas pela polícia e pelas autoridades, além de endereços de órgão públicos de proteção às vítimas. Esse conteúdo foi disponibilizado em cartilhas e spots (áudios) informativos e entrevistas com especialistas, veiculados pelas rádios nas favelas. O objetivo é encorajar as mulheres a falarem sobre o tema e entregarem seus agressores.
“A Lei Maria da Penha permite hoje que o denunciado seja preso em flagrante. A lei também garante a implementação de medidas de proteção à mulher e à família, como o afastamento do agressor do lar, por exemplo”, ressalta Denise, lembrando porém que apesar da mudança na legislação, as mulheres ainda optam por não denunciarem seus agressores.
“A maioria delas acaba desistindo da ação criminal por medo, por dependência financeira do agressor, por acreditar nas promessas de que não será novamente agredida, entre outros motivos. O assunto é muito complexo e, nem sempre a razão prevalece nesses casos. Geralmente, as mulheres não querem ver preso o pai de seus filhos ou alguém que elas ainda amam. O que grande parte das mulheres deseja é parar de ser agredida”, explica.
Vítima de violência se torna voluntária
Uma das voluntárias que apoiam a iniciativa é a advogada F., que atua na Vara de Família da Comarca de Maricá e hoje se dedica a ajudar na qualificação dos comunicadores que levam informação às favelas. Ela mesma conta que foi vítima da violência que hoje ajuda a combater.
“Meu marido comprou um caminhão para fazer frete. Passou a viajar longas distâncias e para não dormir começou a fazer uso de substâncias que o povo chama de ‘arrebite’, além de cocaína. Minha vida virou um inferno, pois passou a ter um ciúme exagerado e a me bater quando chegava bêbado em casa”, desabafa, lembrando que o rádio é importante ferramenta nessa luta contra a violência familiar.
“Através dele não se vê rostos. Você houve aquela situação e se imagina nela, se identifica com ela. E sente vontade de procurar ajuda”, justifica.
Onde ouvir – A lista de rádios comunitárias associadas ao projeto em defesa da mulher, bem como o material da campanha estão disponíveis no site www.radiotube.com.br.(O Fluminense)
Onde ouvir – A lista de rádios comunitárias associadas ao projeto em defesa da mulher, bem como o material da campanha estão disponíveis no site www.radiotube.com.br.(O Fluminense)
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