Policiais rodoviários federais montam barreiras na Ponte e na BR-101 para impedir fuga de bandidos para ambos municípos fluminenses. Efetivo da PRF ganha reforço após onda de ataques
A repressão ao tráfico de drogas no Rio após a recente onda de atentados que tem levado terror à população pode estar contribuindo para a migração de criminosos para Niterói, São Gonçalo e cidades do interior do Estado. Na noite da última quinta-feira, policiais do Serviço de Inteligência (P-2) do 7º BPM (São Gonçalo) prenderam no Complexo do Salgueiro, um traficante recém chegado do Complexo do Alemão. Integrante do Primeiro Comando da Capital (PPC) ele seria o elo de ligação entre a facção criminosa paulista e o Comando Vermelho (CV) do Rio.
Na manhã deste domingo, um homem foi preso quando tentava deixar a cidade pela ponte Rio-Niterói. A PRF não soube informar se ele tinha fugido do Complexo do Alemão, ocupado pela manhã pelas forças de segurança. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o homem de 34 anos e nome não divulgado, tinha um mandado de prisão por roubo à mão armada expedido pela Justiça e foi encontrado durante uma blitz a uma van que fazia o trajeto Rio-Maricá . Ele foi encaminhado para a 78ª DP.
Para o especialista em Segurança Paulo Storani, ex-oficial do Bope e ex-secretário de Segurança de São Gonçalo, essa migração não é de hoje, mas pode ser acelerada com fuga de traficantes do Rio.
“É possível que agora a migração aconteça em maior escala. Mas ela vem desde que começaram a instalar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Isso não é nenhuma novidade. Para coibir essa migração de bandidos seria necessário investir em inteligência e em equipamentos, por exemplo, com grande capacidade de monitoramento de telefonemas”, alerta o especialista, ressaltando, no entanto, que não há tempo hábil para implementar todas essas medidas, e que agora o trabalho deve ser direcionado ao controle das vias de acesso.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) recebeu esta semana reforço de 300% em seu efetivo. O número absoluto de policiais que vão atuar no patrulhamento das estradas federais que cortam o Rio não foi divulgado por motivos de segurança, mas o aumento no de agentes que fazem o patrulhamento diário na Ponte Rio-Niterói, por exemplo, já pode ser percebido.
Rondas para reprimir possíveis ações criminosas
Rondas por toda extensão da rodovia estão sendo realizadas desde o início da semana. Na última sexta-feira, o patrulhamento recebeu apoio aéreo de um helicóptero da Polícia Civil. Na ocasião, o sobrevoo da aeronave chegou a assustar motoristas, que acreditaram se tratar de uma perseguição a traficantes que seguiam para Niterói.
“São Gonçalo e Niterói sempre foram esconderijos perfeitos e a ponte Rio-Niterói, o melhor caminho”, resume o carteiro Josenir Santos Gomes, de 38 anos, morador de Santa Luzia, em São Gonçalo, que teme o aumento da criminalidade em sua cidade.
Se a Ponte é a porta de entrada de traficantes para Niterói, a Rodovia BR-101 é considerada o caminho para São Gonçalo. Para impedir a migração de bandidos, o comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente-coronel Cláudio Luiz da Silva, posicionou parte de seu efetivo nos principais acessos ao município, onde blitzes são realizadas periodicamente. Um dos pontos onde elas acontecem é a Estrada de Itaúna.
“Pedimos que a população use os canais de denúncias para informar sobre qualquer movimentação suspeita em suas comunidades”, solicitou.
População está preocupada
Em Niterói, o assunto nas ruas, nos comércios, nos meios de transportes e nas escolas é o mesmo: os efeitos que a atuação da polícia e das Forças Armadas na capital podem desencadear na cidade.
“Os bandidos possuem vasto domínio territorial. São comunidades amigas espalhadas por toda a Região Metropolitana, que servirão de exílio. Tenho certeza que muitas delas estão situadas em Niterói”, avalia a estudante de Direito Mariana Esteves, de 26 anos, dizendo-se bastante preocupada.
O comandante do 12º BPM (Niterói), no entanto, diz que não há motivos para receio. Segundo ele, 130 policiais estão sendo deslocados para o patrulhamento ostensivo todos os dias em quatro bairros. Eles são distribuídos em duplas conhecidas como Cosme e Damião pelo Fonseca, alvo de alguns atentados, Centro, devido à movimentação comercial, além de Icaraí e Ingá, na Zona Sul.
Blitzes também estão sendo realizadas, segundo ele, em vários pontos da cidade, incluindo os acessos à Ponte.
Titulares das distritais da região, por sua vez, informaram que estão se reunindo para cruzar informações sobre os responsáveis pelos ataques e possíveis migrações de traficantes do Rio.
O especialista Paulo Roberto Sotrani alerta ainda para uma outra rota de fuga que pode ser usada pelos bandidos: a Baía de Guanabara.
“A faixa litorânea é muito extensa e, certamente, há linhas de tráfico de drogas e armas que podem ser utilizadas. O patrulhamento é difícil, pois não existem embarcações suficientes. Temos o Grupamento Aéreo e Marítimo (GAM) da PM, que faz o trabalho, mas a Marinha, que deveria ser encarregada para esse tipo de tarefa, não tem condições de monitorar a Baía, assim como a Polícia Federal (PF)”, ressaltou.(Jornal Fluminense)