A previsão para os passageiros da Linha 2 é a de uma viagem com temperatura amena, a 23C, com livre circulação de ar e de usuários por toda a composição. No papel, o projeto dos 19 novos trens encomendados pelo Metrô Rio à chinesa Changchun Railway Vehicles (CNR) impressiona. Cada um terá seis vagões (totalizando uma compra de 114 carros), com um sistema de ar-condicionado 33% mais potente do que o atual capaz de manter a refrigeração com as portas abertas e — mais importante — suportar e resolver um problema crônico que se arrasta desde a inauguração do trajeto, em 1981: o do calor provocado pela incidência do sol sobre a lataria.
Dos 600 mil passageiros do metrô, 143 mil viajam pela Linha 2 — cujos trens não têm ar-condicionado projetado para tolerar a violência dos raios solares na superfície. A solução, porém, chegará 30 anos depois, no fim de 2011, quando o primeiro dragão desembarcar no Rio.
Os novos trens serão de aço inoxidável, com duas faixas negras e ar futurista. Cada um a US$ 1,3 milhão. Só a refrigeração vale US$ 200 mil — dando uma dimensão do desafio para acabar com o calorão interno. O investimento total é de US$ 148,2 milhões.
Circulação entre vagões
Os trens podem levar 1.800 pessoas com liberdade para circular entre os carros. Os vagões não terão portas divisórias, sendo ligados por um corredor, permitindo que o usuário enxergue toda a composição sem se sentir confinado em um ambiente fechado.
A sensação de espaço também será maior no vagão. Para facilitar a circulação interna, os assentos de fibra serão longitudinais, isto é, paralelos ao corredor, seguindo uma tendência mundial, liberando mais lugares para quem viajar em pé.
Escolha pela internet
Além disso, haverá um toque do próprio usuário na decoração. O Metrô Rio realizará um concurso em setembro, pela internet, para que o público escolha a cor dos bancos: azul; inox, com divisórias vermelhas; e inox e azul, com divisões verdes. Os trens terão ainda um quê multinacional, com refrigeração da Sigma Coachair (Austrália), motor da Melco (Japão), carroceria da CNR e design francês.
Gigante ferroviário
Instalada no nordeste da China, a 700 quilômetros da fronteira com a Coreia do Norte, a CNR foi indicada ao Metrô Rio pelo Mass Transit Railway (MTR), de Hong Kong, considerado o melhor operador desse tipo de transporte do mundo. A grandiosidade da fábrica chinesa é espantosa. Enquanto a brasileira Embraer possui 54.607 metros quadrados de área construída, ela conta com 1,75 milhão de metros quadrados. A capacidade de produção é de 2.500 trens por ano. Para isso, a CNR tem 10 mil empregados, sendo 2 mil engenheiros.
— Fornecemos 97% dos trens comprados para as Olimpíadas de Pequim, em 2008 — gaba-se o gerente-geral Lu Xiwei. — Temos encomendas da Austrália, do Paquistão, do Irã e de Hong Kong, inclusive do trem-bala para Xangai.
— Ampliamos a fábrica e pretendemos participar do projeto do trem-bala brasileiro — revela o diretor de marketing da CNR, Zhang Peng.
O projeto do Metrô Rio tem 700 páginas e é supervisionado pelo MTR, contratado por US$ 10 milhões para assessorar os cariocas. Pelo cronograma, os testes de 10 mil quilômetros com a primeira composição começarão em outubro de 2011, numa pista construída especialmente para a encomenda brasileira.
Estado canibalizou 88 vagões
Com a compra dos 114 vagões, o Metrô Rio aumentará sua frota em 63%. Quando todos estiverem circulando, o tempo de espera será de dois minutos, segundo a concessionária, no trecho entre a Central do Brasil e Botafogo. Uma curiosidade histórica, no entanto, mostra que todo o drama enfrentado pelos cariocas poderia ter sido evitado.
Pelo contrato firmado pelo governo estadual com a Mafersa, em 1975, deveriam ter sido construídos 270 vagões. Mas só 136 foram feitos até 1998. Neste ano, o governo recuperou peças e, hoje, o Metrô Rio opera com 182. Assim, 88 foram canibalizados para $o sistema entre 1979 e 1998, ano da privatização.
Enquanto os trens chineses não chegam, os passageiros da Linha 2 conviverão com os atuais. O presidente do Metrô Rio, José Gustavo de Souza Costa, espera que o calor nos vagões seja amenizado neste verão, com a reforma do sistema de refrigeração.
— Contratamos uma consultoria para isso porque esses trens nunca foram projetados para isso. Mais de um terço da frota já teve o sistema de refrigeração trocado para um mais potente, semelhante ao dos novos trens. Gastamos R$ 20 milhões nesse projeto. Até outubro, essa revisão deve estar concluída — diz.
Após a entrega dos 19 trens, o Metrô Rio tem a opção de compra para outros 19 pelo mesmo preço: US$ 1,3 milhão por vagão. Se a segunda encomenda for confirmada, essa leva reforçará a Linha 1, com vistas à sua ampliação para a Barra da Tijuca.(Extra Online)
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