Os cerca de 2 mil taxistas que circulam pelas ruas de Niterói convivem com frequente medo de assaltos. Situação teria se agravado após início da instalação das UPPs no Rio
Os cerca de 2 mil taxistas que circulam pelas ruas de Niterói convivem com o frequente medo de assaltos. Segundo a Associação de Taxistas de Niterói, pelo menos um ou dois motoristas são assaltados todos os dias na cidade. A situação teria se agravado após o início da instalação, este ano, das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio, que segundo a categoria, teria provocado a migração de bandidos em fuga para Niterói.
“Registramos aumento de 50% no número de ocorrências após a implantação das UPPs, no Rio, que estão fazendo os criminosos de lá virem para cá”, afirmou o presidente da Associação dos Taxistas de Niterói, Márcio Nogueira, acrescentando que já está desenvolvendo um trabalho para alertar a categoria sobre o risco.
Segundo os taxistas, pelo menos duas quadrilhas estariam atuando na região. Uma delas teria entre seus integrantes dois homens e uma mulher loira. A outra teria um integrante com cicatriz no rosto.
Normalmente os bandidos se fazem passar por passageiros e pedem para serem deixados no Fonseca, Santa Rosa ou Cubango. Um dos pontos mais perigosos, segundo a categoria, é a esquina das ruas Noronha
Torrezão e Vinte e Dois de Novembro, no Cubango, próximo às comunidades da Travessa Iara e do Morro do Abacaxi, onde vários assaltos foram anunciados. Muitas vezes os falsos passageiros também pedem para serem deixados em bairros da vizinha São Gonçalo, onde os assaltos são consumados.
“Já fomos informados da ação específica destes dois grupos e estamos tentando alertar todos os motoristas de praça sobre as suas características”, frisou Márcio Nogueira.
O titular da 78ª DP (Fosenca), Reginaldo Guilherme da Silva, disse desconhecer a onda de assaltos, alegando que não houve aumento de registros de roubos a taxistas na área de sua jurisdição. A categoria, no entanto, argumenta que o medo impede que os casos sejam levados até as delegacias, porque como os taxistas estão sempre na praça, tornam-se alvos fáceis da represália de criminosos.
Revólver apontado para cabeça - O taxista Luiz Carlos Paulino, de 40 anos, da Cooperativa Embrataxi, foi vítima de assalto há cerca de um mês.
“Fui atacado pelo homem que tem a cicatriz no rosto. Ele entrou no carro, no Centro, e pediu que o levasse à Rua Noronha Torrezão, no Cubango. Lá, ele colocou um revólver na minha cabeça e levou meu dinheiro, cerca de R$ 120, além do meu celular”, lembra.
O motorista contou que desde então mudou seus hábitos na praça. “Parei de trabalhar à noite e de pegar passageiros na rua. Agora só pego no ponto da cooperativa. Também ando sempre com os vidros fechados e conto com a proteção de Santo Expedito. Trago sua imagem todos os dias no carro”, revelou, lembrando que outro taxista, Relton Martins Barros, de 70 anos, também da Embrataxi, foi assassinado no dia 25 de julho, no Largo da Batalha, durante um assalto.
GPS: paliativo contra a violência - Preocupado com a onda de assaltos contra taxistas, o Conselho de Segurança de Niterói cobra mais policiamento na cidade.
“Escutamos falar desses assaltos, diariamente, inclusive já tomamos ciência da existência dessas quadrilhas. Mas não vejo a Polícia Militar, por exemplo, parar os taxistas durante as blitzen. Vejo que muitas estão sendo feitas pela cidade, mas visando a apenas encontrar veículos com o IPVA atrasado. Se parassem os taxistas e olhassem o passageiro que está dentro, obviamente sem atrasar muito a viagem, alguns desses assaltos poderiam ser evitados”, sugeriu o vice-presidente do conselho, Leandro Santiago de Barros.
Para ele, a Prefeitura também poderia realizar campanha para incentivar os taxistas a utilizarem dispositivos eletrônicos como GPS, que fazem o monitoramento de itinerários via satélite. O GPS já é utilizado pela Cooptax. O equipamento é aprovado pelos taxistas, mas com ressalvas.
“O GPS ajuda quando avisamos à central que vamos para algum destino e este é desviado no meio do caminho. Mas quando os assaltos são praticados durante os trajetos predeterminados, não faz muita diferença. O jeito é escolher quem você pega como passageiro, evitando suspeitos e corridas para áreas de risco”, desabafou um taxista de 47 anos, que está há 23 anos na praça.
A Prefeitura informou que não possui programa voltado ao incentivo do uso de equipamento de rastreamento pois a contratação desses serviços representa gastos que devem ser avaliados pelos prestadores do serviço em questão.
Polícia Militar conseguiu prender um dos suspeitos
Na última sexta-feira, policiais do 12º BPM (Niterói) prenderam Thyago Fortes do Nascimento, de 22 anos, acusado de assaltar dois taxistas no Cubango. Os roubos foram feitos na Rua Noronha Torrezão. Edson Biloria de Rezende, de 52 anos, uma das vítimas, contou que já tinha sido alertado sobre os crimes na área.
“Já estava sabendo, mas é difícil negar passageiro”, alegou, revelando que chega a pensar em mudar de profissão.
“Muita coisa passa pela cabeça, agora estou com a sensação de que nasci de novo. Na hora você pensa na família, em largar o táxi. Mas depois lembra que tem que pagar as contas e continuar se arriscando”, desabafou.
O comandante do Batalhão de Niterói, tenente-coronel PM Ruy França, não respondeu às ligações feitas para o seu celular até o fechamento desta edição.(Fluminense)
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