Para ambientalistas, solução para falta d’água não se restringe à ampliação de Imunana-Laranjal, mas em cuidar dos mananciais, ameaçados pelo constante desmatamento
O “desafio do século XXI”, idealizado na distribuição igualitária de água a todos os municípios, bate à porta e para moradores de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí está longe de ser solucionado. A Cedae anunciou a ampliação na capacidade de tratamento do sistema Imunana-Laranjal, mas ambientalistas alertam que o problema está antes do tratamento, nos rios e mananciais que abastecem as cidades.
A água que chega às torneiras de mais de 1,7 milhão de pessoas vem do Rio Macacu e seu principal afluente, o Guapiaçu e é captada para tratamento próximo a Visconde de Itaboraí. No trajeto da serra até o local, o desmatamento e o uso descontrolado prejudicam o rio e a captação de 5 mil litros por segundo (5 m³/s) o “sufoca” ainda mais. Atualmente, essa quantia de água retirada não é suficiente para atender à demanda da crescente população e o futuro pode ser preocupante.
“O problema já está instalado. Está em cada esquina, em cada prédio que se ergue, no aporte populacional que as cidades estão recebendo por conta do Complexo Petroquímico (Comperj). O rio já está em sua capacidade máxima, não se pode tirar ainda mais água dele para abastecer as cidades. A retirada da cobertura de floresta prejudica ainda mais, pois desregula a vazão dos rios, que enchem muito com a chuva, mas logo escoam, ficando vulneráveis a períodos de estiagem como este que enfrentamos”, explica Dora Hees de Negreiros, do Instituto Baía de Guanabara.
Segundo Dora, apesar do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) não utilizar a água tratada pela Cedae, a população de trabalhadores necessitará dela. O complexo deve utilizar água de reuso empregada na limpeza dos filtros da estação de tratamento de Guandu.
Para solucionar o problema de falta d’água na região, a Cedae está investindo R$ 150 milhões em ações que englobam a ampliação da capacidade de Imunana-Laranjal de 5 m³/s para 7 m³/s, mas o projeto vem gerando críticas.
Aumento - A retirada de mais água do Rio Macacu pode impactar toda a Baía de Guanabara. A bacia do Guapiaçu-Macacu é a maior drenante de água para a baía e alguns organismos no mangue dependem diretamente da água doce que chega.
“Não é apenas ampliar a retirada de água. Temos que avaliar de quanta água depende o mangue, por exemplo. Estamos acompanhando o crescimento da língua salgada em Itambi, que significa diminuição na vazão do rio. Ficamos um tempo sem chuva e existe ainda o uso indiscriminado da água do subsolo, que é engarrafada e vendida. O rio já está sufocado para retirar mais água”, revela Péricles Muniz, biólogo e diretor da Associação de Preservação dos Rios e Serras de Macacu (Prisma).
A Cedae informou que a ampliação será finalizada até o fim do ano. Atualmente, a estação funciona em sua capacidade máxima, mas não é capaz de suprir a grande demanda. Esta iniciativa, junto com a reativação de reservatórios em São Gonçalo deve minimizar os problemas de abastecimento. O medo dos ambientalistas é que isto se reflita em perda de biodiversidade na baía.
Para Dora, a solução deve ser pensada antes da captação e em campanhas de conscientização para o uso consciente da água, principalmente com o advento do Comperj. “Algumas soluções são pensadas, como a construção de barragens no Guapiaçu. É uma alternativa artificial para substituir a função das florestas que é de regular a vazão dos rios. De qualquer forma, a retirada de mais água pode não ser a solução. As pessoas vão precisar de água e não teremos de onde tirá-la, então o melhor a se fazer agora é investir em campanhas de conscientização e também diminuir as perdas do sistema em vazamentos. A barragem pode ser uma solução sim, mas precisa ser bem estudada”, disse.
A Cedae divulgou que a ampliação do sistema causará menos impacto que o esperado pelos ambientalistas. Segundo a empresa, não é captada água apenas no Rio Macacu, mas também no Canal de Imunana, que é a junção dos rios Macacu e Guapiaçu, o que garante água suficiente para o tratamento de 7 m³/s sem comprometer o nível dos rios. “Além disso, a companhia tem outorga do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para captar até 9,25 metros cúbicos de água por segundo no Rio Macacu, embora não o faça”, concluiu a nota.
Para os pesquisadores, o impacto pode ocorrer sim, pois o Rio Macacu teria uma vazão média de 7 m³/s na altura da tomada d’água do Imunana. Nos períodos de estiagem, o nível pode cair a 5,5 m³/s ou até menos.
Barragem - Pensado há mais de 30 anos, o projeto de represar água do Guapiaçu causou polêmica recentemente, mas é apontado por pesquisadores como uma possível solução para o problema, apesar de todo o impacto que causaria a construção do lago. Moradores da área que será alagada realizaram protestos com a volta à tona das discussões sobre a necessidade da represa. Apesar de todo o estardalhaço, o projeto pode não ser realizado a curto prazo. Segundo o Inea, a barragem ainda é um pré-projeto, sem prazo para realização.
“Na época, a Serla (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas), hoje Inea, reuniu todos os proprietários de terra do local e falou até em indenização, mas depois tudo caiu no esquecimento”, explicou Cleber Araújo, proprietário de um lote em Areal de Subaio, uma das áreas que seriam alagadas.(O Fluminense)
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