O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, ignorou o cessar-fogo decretado por seu próprio governo e lançou ataque, por terra e pelo ar, contra o reduto dos rebeldes da oposição, a cidade de Benghazi, no leste do país.
Gaddafi alertou ainda, segundo um porta-voz, que qualquer intervenção internacional na Líbia será uma "clara agressão". "Isto é injustiça, isto é uma clara agressão", disse Gaddafi, em uma carta enviada à ONU (Organização das Nações Unidas), à França e ao Reino Unido.
"Vocês também vão se arrepender se tomarem um passo para interferir nos nossos assuntos internos", continuou Gaddafi, em meio aos preparativos da França e aliados para impor, por meio de força, a zona de exclusão aérea e medidas de proteção aos civis aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira (17).
Segundo o porta-voz, Gaddafi enviou ainda uma carta separada aos Estados Unidos, na qual disse que todos os líbios estão preparados para morrer pelo país.
O ditador reverte assim as declarações de seu chanceler, Moussa Koussa, que foi a público menos de 24 horas atrás dizer que a Líbia aceitava a resolução da ONU e decretava assim cessar-fogo imediato e a interrupção de todas as operações militares.
Neste sábado, as forças rebeldes derrubaram um avião militar de Gaddafi, que bombardeava os arredores de Benghazi, deixando uma nuvem de fumaça negra. Um repórter da Associated Press viu o avião cair, em meio ao som de artilharia.
Os jovens de Benghazi reagiam como podiam. Alguns recolhiam garrafas para fazer coquetéis Molotov. Outros moradores usavam estrado de camas e pedaços de metal para bloquear as estradas e impedir o avanço das tropas por terra.
A rede de TV CNN relata, contudo, que a batalha por terra já começou, com tanques dos dois lados chegando cada vez mais próximos.
"Onde está a França, onde está a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]?, chorava uma mulher de 50 anos em Benghazi. "Está muito tarde".
O porta-voz do governo, Ibrahim Musa, negou a queda do avião, apesar das fotos registradas pelas agências internacionais. Ele também negou que as forças do governo atacaram cidades líbias e disse que são os rebeldes que violam o cessar-fogo.
"Nossas forças armadas continuam a regredir e se esconder, mas os rebeldes continuam nos atacando e nos provocando", disse Musa.
A rede de TV Al Arabyia registra também bombardeios das forças de Gaddafi contra os rebeldes em Zintan e disse que ao menos cinco morteiros caíram em seus arredores.
PRONTO PARA AGIR
Em meio a notícia dos ataques, Paris sedia uma reunião internacional sobre a crise líbia, na qual serão discutidos os próximos passos após a aprovação da resolução da ONU.
Nesse encontro, pode ser decidida uma intervenção militar na Líbia, disse o embaixador francês na ONU, Gerard Araud.
Participarão da reunião a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Líderes árabes também estarão presentes.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, já alertara nesta sexta-feira que as forças de Gaddafi violam o cessar-fogo previsto na resolução do Conselho de Segurança, que permite o uso de força militar para proteger os civis líbios.
Já Araud afirmou esperar uma intervenção militar no país do norte da África horas depois de uma reunião, marcada para este sábado em Paris, entre os principais participantes de uma possível operação.
RESOLUÇÃO
A criação da zona de exclusão aérea autoriza o abate de aviões do ditador líbio que decolem para atacar tropas opositoras. Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A medida endurece ainda o embargo e as sanções contra Gaddafi, seus familiares e círculo mais próximo de colaboradores implementadas no mês passado. Bens e fundos de investimento do ditador e sua família na Suíça e na União Europeia há haviam sido congelados semanas atrás.
Os Estados-membros da ONU podem agora adotar "todas as medidas necessárias" --o que incluiria ataques aéreos-- para "proteger os civis e as áreas povoadas por civis sob ataque na Líbia, incluindo Benghazi".
O texto, contudo, exclui a presença de "qualquer força de ocupação estrangeira de qualquer tipo, em qualquer parte do território líbio".
A resolução foi aprovada por dez votos a favor (incluindo EUA, França e Reino Unido), nenhum contra e cinco abstenções --Rússia, China, Alemanha, Índia e Brasil.
O Brasil alegou temer que a resolução resulte em mais confrontos e disse defender uma solução pacífica aos confrontos.(Folha de São Paulo)
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