terça-feira, 3 de maio de 2011

Travessia Rio-Niterói: nas barcas ou na Ponte, a dura vida dos usuários


Pelas pistas, engarrafamentos diários. Pelo mar, lotação e desconforto. A difícil travessia de quem mora na Região Metropolitana e precisa ir para o Rio se repete diariamente


Pouco a pouco, as águas da Baía de Guanabara se tornam, novamente, uma barreira intransponível. Por ‘terra’ ou por mar, engarrafamentos e filas atrapalham os moradores da Região Metropolitana que precisam ir para o Rio e voltar. Planos para melhorar a fluidez do trânsito não faltam, mas as discussões sobre quem vai arcar com o investimento ainda se estenderão. Enquanto isto, trabalhadores aprendem a conviver com o “custo travessia”.

Só em Niterói, 61.534 pessoas trabalhavam ou estudavam em outra cidade no ano 2000, segundo dados do IBGE. A maior parte, no Rio de Janeiro. 

“Eu escolhi o trajeto ‘menos pior’ para mim. Levo geralmente duas horas para sair de Icaraí e chegar a Vila Isabel. Minha opção pelo ônibus é porque posso dormir durante o trajeto, sem baldeação, mesmo assim, já chego ao trabalho cansada”, explica a enfermeira Mary Anne Neto, de 27 anos.

Mary pensa em mudar para a cidade vizinha como forma de evitar ainda mais transtornos com o percurso.

“Tudo piora em véspera de feriado. O ‘happy hour’ também não adianta mais, porque o trânsito não melhora cedo, passa das oito da noite geralmente”, relata.

A estratégia também foi abolida pelo fisioterapeuta Caio Tramont.

“Agora, leio um livro por mês só dentro dos ônibus. Tento aproveitar o tempo perdido. Demoro duas horas para ir e outras duas para voltar para casa. É metade do tempo que ficamos trabalhando, isto é absurdo”, reclama.

Soluções - Por terra, soluções foram propostas pela concessionária que administra a via desde 1995. Estão sendo avaliados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a construção de um viaduto ligando a Ponte à Linha Vermelha, do lado carioca e, em Niterói, de um mergulhão sob a Praça Renascença.

Segundo a concessionária CCR Ponte, as duas obras custarão cerca de R$ 210 milhões (R$ 150 milhões para o viaduto). Para que não seja impactante no valor do pedágio, é possível que o tempo de concessão seja estendido.

“A construção do viaduto pode ser finalizada entre 18 e 24 meses após a liberação e devemos receber autorização em breve. A hipótese mais provável é que a concessionária realize as obras e que a concessão seja estendida por algo em torno de dez anos. Estas obras não estão no contrato de concessão”, explica Rodrigo Abdala, gestor de contratos da CCR Ponte.

Lucro –
Em dez anos, a concessão renderia à empresa aproximadamente R$ 1,138 bilhão, quase seis vezes o valor das intervenções. Isto levando-se em conta apenas o valor do pedágio pago por carros de passeio (R$ 4,30). Com a média de tráfego atual: 145 mil veículos por dia. A empresa tem receita também  da exploração de espaços publicitários, que poderiam ser utilizados para reduzir o valor da tarifa. Os investimentos na Ponte, de acordo com a empresa, ultrapassam R$ 270 milhões ao longo destes 15 anos.

O viaduto deve resolver os problemas de metade dos usuários da Ponte, já que 25% deles vão para a Linha Vermelha. Estes 25% utilizam a saída para a Avenida Brasil junto com outro quarto de usuários que seguem pela via. Alterações no trânsito desta rampa já eram previstas na concessão.

A ANTT informou que estuda, com o Ministério dos Transportes, formas de viabilizar o projeto do viaduto. Já o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pela Linha Vermelha, informou que não foi informada do projeto. A Prefeitura de Niterói, que também deve realizar intervenções para melhorar o trânsito nos acessos à Ponte, não informou se elabora algum projeto.
Por mar, filas e mais filas

Se o transporte rodoviário, mesmo que sem prazos e de formas polêmicas, tenta absorver o aumento da demanda, a situação não se repete no hidroviário.

As dificuldades na travessia vêm antes de se pisar na embarcação. Diariamente, o processo é complexo. Primeiro, é preciso entrar em uma fila para comprar o bilhete. Depois, é a vez da fila para entrar na estação. A próxima etapa é sair do saguão da estação para ficar no píer aguardando a chegada de uma embarcação, para depois de algum tempo e mais filas, entrar em um catamarã ou barca e, só então, começar a viagem efetivamente. Os passos que antecedem o embarque, dizem usuários, demoram mais que o tempo de travessia, em horário de pico, e são cumpridos de pé. Nas filas de acesso, nem mesmo uma cobertura para proteger do sol ou da chuva.

“Levo geralmente 50 minutos para atravessar, mas porque chego depois que o movimento diminui um pouco. De todo este tempo, 20 minutos são navegando e 30 esperando”, explica a designer Juliana Martinez, de 31 anos.

A reportagem acompanhou um ‘dia de sorte’ de Juliana, que conseguiu fazer a travessia em apenas 40 minutos, mesmo assim, metade foi gasto em processos para embarque.

Segundo o deputado Gilberto Palmares, a qualidade dos serviços prestados não seria o único problema. Estariam sendo descumpridas cláusulas do contrato de concessão do serviço.

“Acompanhando o número de viagens e a capacidade de cada barca, é visível que eles não transportam a quantidade mínima de 12 mil passageiros e o problema não é falta de passageiros. As linhas sociais previstas no contrato nunca saíram do papel, linhas para São Gonçalo, Magé e Duque de Caxias, enquanto a única linha seletiva foi feita. Agora ainda acabam com as barcas da madrugada, na verdade, a última barca será às 23 horas”, disse.

Nas linha seletiva não há controle sobre o valor cobrado pela tarifa. Atualmente, a passagem de Charitas para a Praça XV custa R$ 11.

A empresa que administra o serviço público de barcas, a Barcas S/A, diz que melhorou o serviço ao longo do tempo, com a compra de novas embarcações, e justificou que a empresa opera com um desequilíbrio econômico que já chega a R$ 450 milhões.

“Foi detectado um desequilíbrio pois a demanda foi superdimensionada e os problemas subdimensionados. Ainda temos um grande impacto pela gratuidade”, declarou a representante Heloisa de Castro Faria, durante audiência pública no último dia 27.

Como forma de compensação, a empresa quer o aporte de dinheiro público na compra de 11 novas embarcações (nove com mil lugares e duas com 500), a construção de duas novas estações, investimento em dragagem e a reforma de flutuantes e estações.(O Fluminense)

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