sexta-feira, 13 de maio de 2011

Rotinas dos moradores de Niterói são alteradas pelo medo


Risco de um confronto armado entre traficantes dos morros 94 e do Palácio, no Ingá, tem feito essas comunidades estabelecerem uma espécie de “toque de recolher”

A ameaça de nova guerra entre facções criminosas na Zona Sul de Niterói está mudando a rotina da população dessa região e de comerciantes do entorno. O risco de um confronto armado entre traficantes dos morros 94 e do Palácio, ambos no Ingá, tem feito moradores dessas comunidades retornarem mais cedo do trabalho, estabelecendo uma espécie de “toque de recolher”. A frequência escolar também reduziu nas unidades de ensino da região. A segurança na área teve que ser reforçada.

 “Sou funcionário de um restaurante no Ingá e costumava sair do trabalho depois das 23 horas, mas agora, como sei que não podemos entrar muito tarde em casa, pedi ao meu patrão para me liberar às 20 horas. O que se ouve o tempo todo é que os traficantes do Comando Vermelho estão se preparando para invadir o Palácio e toda a população fica no meio dessa guerra”, relatou um garçom, de 33 anos, que pediu para não ser identificado.

 O comércio de entorpecentes no Morro do Palácio passou a ser comandado pela facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), após constantes conflitos ocorridos no ano passado. Moradores temem que os dias de paz estejam novamente com os dias contados. Alguns relataram que ouviram tiros na madrugada de terça-feira. Eles acreditam que o tiroteio tenha sido uma tentativa de invasão.

 “O pessoal do 94 tentou entrar por volta das 2 horas, mas não conseguiu. Nós ouvimos os tiros. 

Estamos um pouco assustados porque sabemos que eles vão tentar outra vez. É sempre assim, isso não acaba nunca. Não se fala em outra coisa, as mães não deixam as crianças brincarem na rua à noite e a gente não tem mais sossego”, relatou um porteiro, de 46 anos, morador da região há 20 anos.

 O comandante do 12º BPM, tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, negou que tivesse ocorrido uma tentativa de invasão na madrugada de terça-feira. Segundo ele, os moradores podem ter ouvido a movimentação da entrada da PM, que fez incursão no local esse dia.

 “Na madrugada de segunda para terça-feira, o Serviço Reservado entrou no morro em busca da moto que teria sido usada no homicídio do estudante de 16 anos em São Domingos, naquela noite. É possível que os moradores tenham estranhado a presença de homens armados que não eram da comunidade. Não recebemos qualquer informação sobre possível invasão, mas os policiais estão realizando operações quase todos os dias, depois do crime”, garantiu Paulo Henrique.  

Moradores disseram ainda que familiares de pessoas ligadas ao tráfico do Morro do Palácio estão deixando a comunidade com medo de represálias. A rixa entre as facções interferiu, inclusive, na rotina escolar. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, a frequência no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, no Ingá, onde estudava o jovem de 16 anos morto a tiros na última segunda-feira, caiu 10%.

 “Devido à morte desse menor, traficantes do 94 estão dispostos e já mandaram recados que vão matar qualquer um do Morro do Palácio até mesmo moradores”, escreveu.

O crime – O estudante J.F.N, de 16 anos, foi morto a tiros na noite da última segunda-feira, na Praça da Cantareira, em São Domingos, Niterói. Ele teria sido alvejado por dois motociclistas. Uma Honda Falcon azul que teria sido usada no crime já foi apreendida, mas até o momento ninguém foi preso. Um suspeito chegou a ser detido na quarta-feira, mas foi liberado.

 Aluna e professora da UFF também foram baleadas acidentalmente, mas passam bem. Polícia acredita que a morte tenha sido motivada pela guerra entre facções.(O Fluminense)

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