Depois de ver a “casa arrombada” por quatro vezes por trens coreanos e chineses, vendidos ao Rio e a Salvador, a indústria ferroviária nacional está tentando “por um cadeado na porta” através de uma forte mobilização contra a muito provável compra de mais 60 trens chineses para a Supervia, no Rio de Janeiro, pelo governo do estado. Ontem, em reunião no Simefre, o presidente da entidade, José Antonio Martins, disse que seria “uma afronta à indústria nacional” ver o governo do Rio repetindo o que fez há dois anos, ao comprar 30 trens de quatro carros e depois mais quatro também de quatro carros da Changchung Railway Vehicles Corporation, pertencente ao conglomerado chinês CNR. A fábrica da Changchung volta hoje uma boa parte de sua capacidade de produção para o Brasil, pois ali também estão sendo fabricados 19 trens de seis carros adquiridos pelo Metrô Rio, concessionária privada.
No início da reunião – que contou com a presença do secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Jurandir Fernandes – os empresários se mostravam entusiasmados com o anúncio, na véspera, do plano Brasil Maior, com suas normas de desoneração fiscal para a indústria e margem de preferência de 25% para produtos nacionais nas compras governamentais. Logo em seguida, no entanto, o presidente da Abifer, Vicente Abate, observou que a licitação a ser aberta no mês que vem pelo governo do Rio para a compra dos trens da Supervia terá financiamento do Banco Mundial, e dessa forma escaparia não só da margem de preferência como também do imposto de importação de 14% sobre importação de equipamento ferroviário. Foi assim, com isenção de imposto alfandegário, que os primeiros 34 trens foram comprados.
As duas entidades do setor decidiram partir para o ataque. O presidente do Simefre, gaúcho como a presidenta da República, e próximo a ela, vai atuar em Brasília, enquanto o presidente da Abifer, diretor da AmstedMaxion, fábrica de vagões, vai mobilizar a força sindical para fazer pressão sobre o governo do Rio.
Uma outra compra a ser feita pela Supervia, de mais 30 trens, esta com recursos privados, da Odebrecht Transport, que hoje controla a operadora, também está a caminho. Ou seja, uma encomenda total de 90 trens, próxima da compra de 105 trens feita pela CPTM há quatro anos, e que levou à instalação da fábrica da CAF em Hortolândia (SP). Não está descartado, por sinal, que uma fábrica da CNR venha a ser instalada em Três Rios (RJ), onde a T'Trans, associada do Simefre, tem as suas instalações prontas para receber os chineses, caso a encomenda seja de fato ganha por eles.
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